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Migração Climática: Deslocamentos pela Crise do Clima Afetam Mulheres Primeiro

Crédito da foto: UNHCR/Olivier Laban-Mattei

Por Jéssica Vandal, Pesquisadora do EmpoderaClima

As mudanças climáticas representam um dos desafios globais mais urgentes que enfrentamos atualmente. Além disso, é um problema extremamente injusto, onde aqueles que menos contribuem para tal são os que mais sofrem. Grupos vulneráveis como os povos indígenas, idosos, pessoas vivendo em situação de pobreza, pessoas com diferentes identidades de sexo e gênero e aqueles com deficiências são os mais afetados pelas mudanças climáticas.

Mulheres adultas e jovens fazem parte desses grupos vulneráveis e têm sofrido discriminação por toda a história da humanidade. Fora isso, sabe-se que até os 30 anos, as mulheres são desproporcionalmente afetadas pela pobreza, como documentado em um relatório de 2018 do Grupo Banco Mundial.

Uma área específica onde mulheres adultas e jovens têm sido profundamente afetadas é através de migrações relacionadas ao clima, um cenário que está se tornando cada vez mais comum conforme os efeitos das mudanças climáticas continuam a se intensificar. Um relatório feito pela ECODES em 2019 sobre a Perspectiva de gênero em migrações climáticas destaca este novo desafio para as mulheres em áreas onde os impactos extremos das mudanças climáticas já estão sendo sentidos.

A influência das mudanças climáticas na mobilidade humana tem estado em uma curva crescente nos últimos anos, e com os cenários atuais de conflito, extrema violência e forte instabilidade econômica e política, movimentos grandes de migração estão crescendo.

Alguns termos, como refugiado ambiental ou migrante ambiental, estão sendo usados para descrever pessoas forçadas a deixar suas casas pela falta de recursos, ou pessoas que “voluntariamente” se mudam à procura de condições de vida melhores por causa da crise climática - é considerado uma migração voluntária, ainda que migrar devido a impactos ambientais é uma decisão com algum nível de pressão. 

Como apresenta o Relatório de Migração Global 2020, milhões de pessoas ao redor do mundo estão se mudando antecipadamente ou para se adaptar aos impactos climáticos e ambientais. Eventos extremos como ciclones, enchentes ou queimadas destroem casas e contribuem para o deslocamento de pessoas.

Fora isso, processos de início lento como o aumento do nível do mar, secas ou chuvas extremas são pressões crescentes sobre os meios de sustento e comprometem o acesso à comida e água, em muitos casos resultando na decisão da mudança à procura de melhores condições de vida.

Como mencionado anteriormente, aqueles que vivem em uma situação mais vulnerável, seja econômica, política ou social, estão mais propensos a serem afetados por impactos climáticos repentinos ou lentos. Além do mais, essas pessoas têm menos acesso à informação e, consequentemente, não são capazes de se preparar para uma migração - não estão aptas a migrar ou estão migrando em péssimas condições.

ECODES destaca em seu relatório que a forma que as pessoas se comportam em migrações climáticas também varia de acordo com seu gênero. Até a decisão de migrar ou não contra condições climáticas ou ambientais adversas vai depender de quem toma a decisão dentro da casa, homem ou mulher - e todos nós sabemos o quão patriarcais os lares de muitos países costumam ser. 

As pessoas frequentemente precisam procurar por abrigo em locais temporários quando são afetadas por desastres climáticos repentinos. Já que esses lugares são feitos para  providenciar uma assistência rápida a quem necessita, eles não são projetados para levar em conta necessidades especiais das mulheres: direito de privacidade, banheiros acessíveis e produtos sanitários, condições especiais para grávidas ou lactantes… Além disso, ao viver nesses locais, mulheres e meninas enfrentam um grande risco de violência sexual e estão mais propensas a desenvolver problemas psicológicos associados ao estresse.

Seja qual for o motivo para a migração, o fato é que mulheres adultas e jovens em movimento estão mais propensas a sofrer violência sexual e de gênero. Elas têm mais chance, por exemplo, de se tornarem vítimas de tráfico humano ou exploração sexual, casamentos infantis forçados, discriminação racial, xenofobia, violência intrafamiliar, menos acesso a sistemas de educação e saúde pública, condições deploráveis de trabalho e outros tipos de discriminações e violências relacionadas ao gênero. .

Mesmo quando ficam em casa, as mulheres são mais impactadas pela migração de seus parceiros. Em comunidades locais em diferentes regiões ao redor do mundo, homens estão migrando comumente para áreas urbanas em busca de trabalho por causa dos efeitos das mudanças climáticas, enquanto as mulheres ficam em casa - sobrecarregadas pelas responsabilidades de cuidar da casa, da família e de trabalhar com agricultura.

Certos impactos causados pelas mudanças climáticas em mulheres adultas e jovens são facilmente quantificados - como a distância que as mulheres precisam percorrer para pegar água ou o número de mortos em uma enchente - mas outros impactos, especialmente aqueles relacionados a migrações climáticas, como relatado neste artigo, não são tão visíveis ou facilmente identificáveis. O que sabemos é que as mudanças climáticas têm uma grande influência na discriminação diferente que as mulheres adultas e jovens já sofrem, mas é muito mais séria em um contexto migratório.

As desigualdades de gênero sistemáticas geralmente põem as mulheres em segundo plano em relação a tomada de decisões ou recebimento de benefícios, mas estas desigualdades pioram ainda mais quando as pressões e consequências das mudanças climáticas são somadas à equação.

É de extrema importância expor e falar sobre perspectiva de gênero, não só em cenários de migração climática, mas de mudanças climáticas em geral. Empoderar mulheres e promover sua participação em ambientes de liderança é necessário para se ter mais mudanças efetivas e significativas que busquem alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.