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Estado natal da EmpoderaClima está enfrentando um desastre climático e precisa de ajuda

Créditos da imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini/Flickr | Porto Alegre, 7 de maio

Por Taís Montani, Pesquisadora da EmpoderaClima, e Carmen Roberta Taboada, Diretora de Pesquisa da EmpoderaClima, ambas moradoras de Porto Alegre

Neste momento, o Rio Grande do Sul (RS), estado no extremo sul do Brasil, com extensão territorial de quase 282 mil km² (maior que a área de todo o Reino Unido, por exemplo), está passando pelo maior desastre climático da sua história – e um dos maiores do país. O desastre é resultado das mudanças extremas do clima e da omissão de políticas públicas sistêmicas que considerem o meio ambiente e a adaptação climática. Previsões meteorológicas adversas, aliadas à sua intensificação e frequência devido às mudanças climáticas, levaram ao cenário em que nos encontramos até a publicação deste artigo, dia 11 de maio: 136 mortos, 756 feridos, 141 desaparecidos, cerca de 71 mil pessoas estão em abrigos e outras 339 mil tiveram que deixar suas casas. De acordo com a Defesa Civil, de uma população de um pouco mais de 10 milhões de pessoas, 1,9 milhão foram afetadas - para referência, a cidade estadunidense de San Diego, na Califórnia, conta com cerca de 1,3 milhão de habitantes.

É importante lembrar, ainda, que nesse contexto os grupos mais vulneráveis da população são afetados de forma desproporcional. Ao longo deste texto, contextualizamos o que ocorre e como você pode ajudar o estado do Rio Grande do Sul, que enfrenta uma situação de calamidade sem precedentes.

Como o Rio Grande do Sul ficou embaixo d’água?

Tudo começou com uma forte chuva em algumas regiões do estado, no dia 27 de abril deste ano, intensificando-se no dia 29 de abril. Até o dia 2 de maio, o volume de chuva de 258,6 milímetros correspondeu a mais de dois meses de chuva, quando comparado com a média anterior. Como um efeito em cadeia, chuvas, ventos fortes, deslizamentos de terra, alagamentos e enchentes de algumas regiões foram se alastrando, ampliando e avançando até tomar mais de 85% do território gaúcho - de 497 municípios, 444 foram afetados.

O estado já vinha passando por enchentes intensas no último ano, portanto alertas preventivos de ciclones e chuvas intensas já têm se tornado rotineiros à população gaúcha. Contudo, ninguém estava preparado para uma catástrofe dessa magnitude. 

Porto Alegre, capital do estado onde muitos voluntários da EmpoderaClima estão baseados, e sua região metropolitana, tem seu litoral banhado pelo Lago Guaíba - ponto de encontro de diversos rios e afluentes da região. Dessa forma, o aumento de nível da água dos demais rios e lagos resultam em um deságue alarmante no Guaíba. Com a chuva intensa e alertas de inundação, parte da cidade já estava fadada a ser evacuada e preparada para enfrentar grandes desafios nos dias seguintes. Para fins de referência, a Defesa Civil tem como cota de alerta o nível da água de 2,5 metros e cota de inundação de 3 metros - e a realidade enfrentada pelos gaúchos em Porto Alegre chegou a 5,35 metros - recorde histórico. Além de ter chegado a bairros mais distantes do que previsto, a catástrofe agravou-se com consecutivas previsões de chuva que mantiveram o alto nível da água.

Outro fator alarmante para Porto Alegre é o grande arquipélago de 16 ilhas que compõem o território - estas são afetadas mais rapidamente, uma vez que o aumento do nível da água invade grande parte de sua dimensão. Além disso, as ilhas perdem o contato terrestre com a cidade, tendo que ser evacuadas com maior previsibilidade e limitando resgates em enchentes através da via marítima ou aérea.

Reunindo os fatores, a intensidade dos fenômenos naturais e a amplitude de vítimas afetadas, instaurou-se estado de calamidade pública pela Prefeitura de Porto Alegre e região metropolitana. O desastre climático foi classificado como nível III - de grande intensidade.

Créditos da imagem: Lauro Alves/Secom/Flickr | Região Metropolitana de Porto Alegre, 5 de maio

Os relatos das vítimas são, infelizmente, similares em todo território do Rio Grande do Sul: pessoas, famílias e comunidades perderam tudo o que tinham, suas casas, seus móveis, seus lares. Saíram de suas residências apenas com a roupa do corpo. Muitos tiveram que subir nos telhados para aguardar resgate devido ao alto nível de água. Cidades desapareceram debaixo das enchentes. Muitos perderam seus entes amados e até suas vidas. Em meio a esse cenário, sirenes policiais, ambulâncias e helicópteros tornaram-se sons ambientes das cidades gaúchas.

Além das perdas pessoais, entre os danos materiais também se somam os seguintes pontos:

  • Diversas rodovias e estradas estão bloqueadas total ou parcialmente. A capital do estado, Porto Alegre, ficou isolada, com somente uma via terrestre de acesso para entrada de suprimentos e ajuda humanitária e saída para evacuação de seus moradores;

  • O Aeroporto Internacional Salgado Filho, principal do estado, está inundado, não havendo previsão para a volta de seu funcionamento;

  • 952 escolas foram afetadas no RS, impactando 331 mil estudantes;

  • Desabastecimento dos mercados com a necessidade abundante e imediata de água potável, artigos de higiene, cestas básicas, entre outros;

  • Com metade das estações de tratamento de água afetadas em Porto Alegre, cerca de 80% da população sofreu com desabastecimento de água; e

  • Muitos municípios gaúchos estão, total ou parcialmente, sem energia elétrica.

Ainda não é possível mensurar com precisão os danos herdados do desastre em nosso estado, tampouco o orçamento para reconstrução das cidades. Os efeitos negativos percorrem todas as camadas - social, econômica, urbana e comercial. É necessário pontuar que a economia gaúcha está tendo muitas perdas - desde produções agropecuárias até o fechamento do comércio nas cidades atingidas, o que aponta, neste momento, para uma recessão econômica.

É importante lembrar que o Rio Grande do Sul tem dois biomas: a Mata Atlântica, que cobre a metade norte do estado, e o Pampa, que ocupa a metade sul. Diferentemente da Amazônia, os dois não recebem tanto destaque internacional - sobretudo o Pampa, que é dividido com os vizinhos Uruguai e Argentina e não aparece em nenhum outro estado brasileiro. Entretanto, considerando a interconectividade da natureza, sem os dois biomas que ocupam o território gaúcho, a floresta amazônica também não sobrevive. Em uma retroalimentação constante e entendendo a Terra como um organismo vivo, amenizar o desastre climático do sul e pensar em medidas de adaptação e mitigação climáticas ao Rio Grande do Sul é essencial para a proteção ambiental brasileira como um todo.

Papel da sociedade civil na contenção de danos e acolhimento

sociedade civil está sendo essencial para a resiliência das cidades afetadas no RS. Voluntários estão se reunindo para triagem de donativos, segurança, logística e preparação de abrigos, participação nos resgates de vítimas (o qual tem se dado por meio de barcos, canoas e jet skis), busca por água potável, preparação de comida, cuidado médico e psicológico, entre tantas outras atividades que têm sido parte do dia a dia dos gaúchos nos últimos dias. Enquanto a região Metropolitana está, neste momento, com a população que foi retirada de suas casas em abrigos, outros voluntários no restante do estado se mobilizam para ajudar na limpeza das casas. A conscientização da população e sua proatividade têm salvado milhares de vítimas, colocando a descrença às alterações climáticas à prova e demonstrando a força da participação popular quando ninguém, nem mesmo o governo, é capaz de lidar com tamanho desastre sozinho.

Créditos da imagem: Gustavo Mansur/Palácio Piratini/Flickr | Canoas, 6 de maio

Entretanto, apesar do grande esforço e mobilização de civis voluntários e do trabalho constante do setor público para conter o desastre e ajudar as vítimas, o tormento pelo qual estamos passando está longe de acabar. Isso porque a previsão meteorológica para os próximos dias é desafiadora. Além de haver cinco barragens com risco de rompimento no estado, estão previstas mais chuvas e onda de frente fria baixará as temperaturas na região, dificultando novos resgates e agravando a situação de pessoas já resgatadas.

Como a equidade de gênero entra em pauta neste momento?

Para completar o quadro, ainda há preocupação e atenção à segurança de pessoas mais vulneráveis nas ruas e nos abrigos temporários nas cidades, principalmente crianças e mulheres - lembrando que os desastres climáticos geram efeitos diferentes de acordo com as vulnerabilidades das vítimas envolvidas. Como medida para combater os casos relatados de violência sexual em abrigos, estão sendo criados alojamentos temporários com forte vigilância exclusivamente para mulheres e crianças desabrigadas pelo desastre climático. Esses tristes casos evidenciam os impactos desproporcionais que meninas e mulheres enfrentam devido ao contexto de mudanças climáticas, em que situações previamente críticas  agravam-se por questões diversas, como recortes sociais e diferentes tipos de violência.

Como você pode ajudar o Rio Grande do Sul?

Com isso, uma vez descrito acima o cenário pelo qual o Rio Grande do Sul está passando e tendo em vista as previsões climáticas pessimistas para os próximos dias, ainda há muito o que fazer para ajudar. Localmente, pedimos para que, quem possa, atue como pessoa voluntária nos centros de distribuição e nos abrigos. No RS e nas demais partes do Brasil, pedimos que, dentro do possível, cada um contribua com doações individuais ou coletivas, mobilizando suas comunidades para envio de itens de higiene pessoal, alimentos não perecíveis, roupas, produtos de limpeza e, principalmente e acima de tudo, água potável e mineral. 

Ainda, doações monetárias para iniciativas de confiança são encorajadas, pois, além da necessidade de compras de donativos neste momento, ainda haverá o esforço de limpeza e reconstrução das cidades. Aos brasileiros, clique aqui para acessar uma plataforma que reúne iniciativas de ajuda às vítimas das enchentes em todo país. Também sugerimos as seguintes iniciativas que têm trabalhado fortemente em resgates, doações e acolhimento para as vítimas do desastre:

  • Espaço Marlon e Marcelinho: faz doações a comunidades vulneráveis na zona norte de Porto Alegre, no bairro Rubem Berta. Iniciativa chefiada por mulheres pretas.

Às pessoas no exterior que queiram ajudar, sugerimos transferências internacionais diretamente ao governo do estado do RS (lembrando que, devido à cotação da moeda brasileira, doações em euro ou dólar valem muito). Para mais informações sobre como realizá-las, clique aqui.

Contribua como puder, o seu pouco pode ser muito para outra pessoa. Ajude o Brasil. Ajude o Rio Grande do Sul!

Para mais informações sobre a situação, acesse aqui. Para ver imagens de antes e depois do desastre em Porto Alegre, clique aqui. Para ver imagens de satélite da região, clique aqui.


Se souber de alguma outra instituição que está atuando na linha de frente no RS, avise-nos para divulgarmos.