Mãe Terra: mulheres indígenas são as verdadeiras guardiãs das florestas
Por Renata Koch Alvarenga, Diretora do EmpoderaClima
Nota: Nesse final de semana, EmpoderaClima está no Global Landscapes Forum em Bonn, Alemanha, que tem como tema para 2019 "São direitos a solução para as mudanças climáticas?". Então, em homenagem a essa conferência incrível, o tema do mês para a nossa plataforma é mulheres e florestas. Aproveite a leitura!
A conservação das florestas é essencial para combater as mudanças climáticas. Este é um conhecimento comum para aqueles que se preocupam com o meio ambiente. A vida em geral depende das florestas, incluindo as vidas das gerações futuras, uma vez que 30% da superfície da Terra é coberta por florestas. Mas você sabia que o planeta depende de defensoras femininas das florestas?
Quando se trata de florestas, falar de mulheres indígenas é fundamental. Cerca de 85% da biodiversidade mundial está localizada nos territórios dos povos indígenas, e mais de um bilhão e meio de indivíduos dependem diretamente das florestas para as suas necessidades diárias, como alimentação e água, vestuário e medicina tradicional. Dadas as tarefas geralmente atribuídas às mulheres devido às normas sociais conservadoras, as mulheres indígenas são frequentemente responsáveis por garantir que suas famílias tenham essas necessidades básicas, o que as expõe a maiores impactos da degradação florestal.
A Terra depende de defensoras femininas das florestas, e isso se deve ao seu amplo conhecimento das florestas - dado o tempo que elas passam nela como parte de seus papéis sociais e culturais. As mulheres das áreas rurais, especialmente as mulheres indígenas, têm conhecimento sobre práticas de conservação, manejo florestal sustentável e diversidade biológica, habilidades cruciais para a indústria florestal. Além disso, as mulheres indígenas são geralmente responsáveis por manter viva a origem e a cultura das suas comunidades locais, portanto, elas desempenham um papel especial na liderança dos povos indígenas em todas as áreas da vida cotidiana.
No Brasil, especificamente na região amazônica, muitas mulheres assumiram a liderança na conservação da floresta, inclusive em iniciativas sociais e ambientais, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Basileia, fundado por Chico Mendes. Francisca Bezerra, atual presidente do Sindicato, é a primeira mulher a ganhar as eleições para a presidência, em 41 anos de existência.
As mulheres são as guardiãs das florestas, o que significa não apenas sua liderança no terreno para os esforços de conservação, mas também sua presença em reuniões de tomada de decisão, localmente em suas cidades e países, e globalmente, em conferências de alto nível. Em 2018, Joênia Wapichanga, do Brasil, foi a primeira mulher indígena a ser eleita para o Congresso, representando os direitos daqueles que vivem e trabalham nas florestas do mundo político.
Sônia Guajajara, no mesmo ano eleitoral, concorreu à vice-presidência do Brasil - a primeira indígena na história a concorrer a esse cargo. Sônia foi uma das palestrantes do Global Landscapes Forum nesse fim de semana, na sessão "getting it right: a rights-based approach for landscapes", e em seu discurso, a líder indígena brasileira destacou a importância da participação dos povos indígenas na política e o significado da Mãe Terra como princípio norteador dos direitos humanos e ambientais.
Esses exemplos do Brasil mostram como a narrativa sobre liderança para a igualdade de gênero nas discussões sobre florestas está mudando, para melhor. No entanto, até então, ainda é um desafio (mesmo legalmente, em algumas regiões) reconhecer as mulheres como atores legítimos no setor florestal. É preciso que haja uma mudança gradual na cultura de transformação, incluindo o apoio dos líderes masculinos à igualdade de gênero.
Para atingir o desenvolvimento sustentável até 2030, uma das primeiras questões que precisa ser abordada é a pobreza, que é ainda mais comum nas áreas rurais. Isso significa que os projetos agroflorestais precisam incluir gênero em suas ações, pois a igualdade é um acelerador fundamental para um planeta mais sustentável. A abordagem para combater o desmatamento deve ser interseccional.
Resumindo, se não houver políticas que respondam às questões de gênero no setor florestal, não haverá justiça social nem sustentabilidade nas economias do futuro. A implementação de iniciativas transformadoras de gênero não é tão difícil quanto parece, e há muitos acadêmicos, formuladores de políticas e especialistas discutindo isso - confira as discussões do Global Landscapes Forum para saber mais!