Mulheres brasileiras se preocupam mais com crise climática do que homens, mesmo com menos conhecimento científico sobre o tema, aponta pesquisa

Dados foram interpretados por voluntária da EmpoderaClima, por meio de pesquisa encomendada pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com o programa de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale

As mulheres brasileiras são mais preocupadas e engajadas em soluções relacionadas às mudanças climáticas, mesmo que o nível de conhecimento científico que detenham sobre o tema seja menor do que os homens. É isso que aponta a análise de dados de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS), em parceria com o programa de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale, cujos resultados foram interpretados pela assistente de projetos da iniciativa EmpoderaClima, Andreza Conceição, de 24 anos.

A voluntária foi agraciada com uma bolsa do ITS e se debruçou sobre os números durante três meses, ao lado do designer Pedro Godoi, também voluntário na iniciativa com foco em justiça climática e gênero. De acordo com Andreza, formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), a socialização de homens e mulheres é uma das explicações para essa diferença no nível de preocupação e engajamento com questões ambientais, uma vez que ambos são incentivados de maneira distinta para o estudo das ciências: os homens com educação menos ecológica e exploratória; as mulheres com um viés mais altruísta e empático.

“Outro insight muito importante é que as pessoas mais pró-ativas são as pessoas preocupadas com o clima. Ou seja, porque eu sou preocupada é que eu vou me engajar em prol do meio ambiente. E as pessoas mais preocupadas são as mulheres, por socialização de gênero, e isso porque elas têm uma percepção de risco maior e são mais preocupadas com o coletivo”, resume Andreza.

A economista pesquisou os números entre junho e agosto de 2022, e contou com aulas e mentoria para entender os dados do questionário. Foram selecionadas cinco propostas no ITS, dentre mais de 100 aplicações do Brasil todo. Andreza conta que optou por olhar os dados de uma perspectiva mais ampla, para conversar com pesquisas similares já realizadas nos Estados Unidos, uma vez que o questionário aplicado no Brasil é adaptado de um bastante similar realizado em terras estadunidenses. “Existe toda uma discussão sobre mudanças climáticas, só que existem pouquíssimas pesquisas - para não dizer que não existem - que olham o Brasil especificamente. No nosso país, existe uma lacuna de gênero na educação climática. Precisamos, cada vez mais, democratizar a educação sobre o clima”, salienta.

Para além do gênero, a pesquisa aponta que os jovens e pessoas menos escolarizadas demonstram ter maior nível de conhecimento sobre aquecimento global. Segundo ela, isso sugere duas coisas: educação climática chega mais na juventude e por vias alternativas à educação formal (escola, faculdade etc.). Por exemplo: cursos online, redes sociais etc. Em seguida, a raça não parece ser relevante para determinar o nível de conhecimento científico, mas a ideologia política, sim: pessoas mais à esquerda são mais bem informadas sobre as mudanças climáticas.

Por fim, a economista aponta que o conhecimento científico sobre mudanças climáticas não é determinante para a ação em prol da causa ambiental. “O que importa é a percepção de risco, a empatia, a preocupação”, finaliza Andreza. A pesquisa completa, em forma de paper científico, está disponível no link: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4182844.

Gráfico - principais dados analisados na pesquisa

Fonte: Instituto Tecnologia e Sociedade. Edição: 2021


Sobre a EmpoderaClima

A EmpoderaClima é uma iniciativa multilíngue, baseada no Brasil, que luta pela justiça climática, utilizando a lente de gênero e juventude e com  foco no Sul global. Fundada em 2019 pela porto-alegrense Renata Koch Alvarenga, hoje conta com mais de 20 voluntários do mundo todo, que se dividem entre pesquisadores, tradutores, time de comunicação, de mobilização nacional e engajamento, construindo redes e apostando em advocacy para promover o empoderamento da juventude, principalmente jovens mulheres, para aumentar a participação ativa dos grupos mais afetados pelas mudanças climáticas em espaços-chave de tomada de decisão, como as negociações do clima.

Em mais de três anos de história, a EmpoderaClima participou de diversas COPs organizando eventos pioneiros sobre a liderança de jovens mulheres na crise climática, e soma parceiros como Fundo Malala, Global Landscapes Forum, Latinas for Climate e a Iniciativa das Nações Unidas para a Educação de Meninas. Para mais informações sobre o trabalho da Empodera, acesse o site: https://www.empoderaclima.org/.

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