Mulheres na Agricultura: O capítulo que falta nos nossos livros de história
Por Danielle Cooper, do Nominating and Corporate Governance Committee da Care About Climate
Na sociedade patriarcal que nós fazemos parte há séculos, mulheres sempre trabalham na cozinha, certo? Errado! O trabalho das mulheres começou nas fazendas e terminou na cozinha. Como o Grupo Banco Mundial articulou: "Como as cuidadoras primárias das famílias e comunidades, mulheres providenciam comida e nutrição; elas são a conexão humana entre a fazenda e a mesa."
Audra Mulkern, uma antiga funcionária da Microsoft de Seattle, Washington, tem procurado por documentos históricos e fotos para provar que mulheres são parte da indústria da agricultura desde o seu começo. Na sua pesquisa, ela concluiu que mulheres estavam em tratores, ordenhando vacas e cuidando de plantações tanto quando os homens. Ainda assim, parece que as mulheres foram apagadas da história da agricultura que conhecemos.
A história da agricultura é longa, e ainda, menos que 1% das mulheres é representada por essa narrativa. As mulheres foram excluídas de documentos de propriedade, recibos de equipamento, e títulos de tratores, simplesmente por serem mulheres. Isso mostra o porquê de ser tão difícil conseguir fotos ou documentação de mulheres na agricultura - especialmente do passado. As mulheres fazem parte desse setor desde o seu começo, mas foram omitidas dos livros de história.
Durante a Segunda Guerra Mundial, mulheres passaram a predominar a mão-de-obra na agricultura. Como apresentado pela jornalista Lisa Foust Prater, em um artigo sobre a história do trabalho feminino, entre abril de 1940 e julho de 1942, dois milhões de homens deixaram seus empregos nos campos dos EUA. 1,5 milhões de mulheres sem experiência prévia no setor foram trabalhar com agricultura, entre 1943 e 1945, o que mudou o setor drasticamente.
Essas mulheres tiveram a coragem de realizar um trabalho que lhes era desconhecido para ajudar o seu país durante a guerra, o que é extremamente honrável. Mulheres corajosas como elas deixaram uma marca importante na história da agricultura, e essa força que elas adquiriram através do seu trabalho no campo permanece viva até hoje, sendo passada para as próximas gerações.
Como já mencionado, apesar das mulheres terem sido grande parte da indústria da agricultura, elas foram mantidas no escuro. A Women's Land of Army for America (WLA) era parte do U.S. Crop Corps, onde mulheres eram preparadas para iniciar empregos no campo: elas recebiam treinamento, vestiam uniformes e eram chamadas de “Farmettes” ou “Land Girls” (Garotas do Campo, em tradução livre). A maioria das pessoas nunca ouviu falar desse grupo, mas reconhece a icônica Rosie a Rebitadora, que simboliza mulheres no mercado de trabalho, mas não especificamente na agricultura.
Mulheres na agricultura são protagonistas da história das terras do nosso planeta - mas não é só no passado que elas foram relevantes. Mulheres fazendeiras atualmente representam ¼ da população global - e em países em desenvolvimento, elas constituem mais de 40% de toda mão-de-obra na agricultura. Em 2012, a Índia sediou a Conferência Global sobre Mulheres na Agricultura, e esse mês de julho (2019), a Conferência Women in Agriculture ocorreu em Tucson, Arizona (EUA).
Isso ajuda a esclarecer a escala de envolvimento das mulheres na agricultura em nível local. A Audra Mulkern é um ótimo exemplo de envolvimento nacional de mulheres no meio agrícola, já que ela sempre busca trazer fotos e documentos históricos para ilustrar o papel feminino na agricultura. Na África e na Ásia, mulheres ainda são consideradas a grande maioria da mão-de-obra agrícola, o que mais uma vez prova que o empoderamento da mulher é muito presente na indústria da agricultura.
Nesse mês de agosto, no Brasil, 100.000 mulheres irão se reunir para a Sexta Marcha das Margaridas, o maior movimento de mulheres do campo na América Latina. Essas mulheres marcham para defender suas terras, suas florestas e suas águas. O movimento é inspirado na Margarida Maria Alves, líder sindicalista e defensora dos direitos humanos nos anos 1970, assassinada 36 anos atrás. A Margarida se tornou um símbolo dessa ação de grande escala por mulheres latino-americanas; mulheres de mais de 27 países, que estão se manifestando para a igualdade e justiça social.
A representação feminina pode ser pequena nos nossos livros de história, mas nos estamos assegurando com que essas agentes de mudança na agricultura das suas comunidades locais sejam lembradas e continuem relevantes. Desde o envolvimento local, até o nacional e global, mulheres têm trabalhado nas colheitas, ordenhado as vacas, e dirigido tratores com graça por décadas. Já passou da hora para o planeta reconhecer o poder transformador das mulheres na agricultura, fazendo com que nossas terras se tornem mais sustentáveis e resilientes para as gerações futuras.